segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Baixa variabilidade genética ameaça mero



Publicado no Jornal do Commercio, em 6.11.2011.
A variabilidade genética do mero, maior peixe ósseo do Atlântico Sul, é de baixa a moderada, revela pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco. Em nove localidades, da Guiana Francesa ao Paraná, varia de 32,9% a 52,4%. O resultado, afirmam os cientistas, é mais uma justificativa para prorrogar a moratória da pesca da espécie, válida até 2012.
Na portaria do Ibama, de 2007, o crescimento lento e a alta longevidade – um mero vive mais de 40 anos – figuram como as principais razões para a proteção da espécie. “Agora, a baixa variabilidade confirma que a espécie está criticamente ameaçada de extinção e precisa mesmo continuar resguardada”, diz o coordenador do estudo, Rodrigo Torres.
A análise do DNA foi feita em amostras coletadas de 95 exemplares, de dez l0 localidades. Apenas em uma – Santa Catarina – a variabilidade foi alta. Os pesquisadores ainda não sabem por que a diferença, mas acreditam que variações na temperatura e na turbidez da água na costa catarinense possam ter provocado o isolamento genético da população de meros. É o que os geneticistas chamam de unidade evolutivamente segmentada.
O perfil genético da população de meros de Santa Catarina é tão distinto que Rodrigo Torres acredita se tratar de uma nova espécie.“Embora morfologicamente não haja diferenças, geneticamente o grupo de meros do Paraná até a Guiana Francesa é um e o de Santa Catarina é outro”, afirma o biólogo, responsável pelo Laboratório de Genômica Evolutiva e Ambiental, do Departamento de Zoologia da UFPE.
As amostras analisadas são das nadadeiras do mero. O peixe, que atinge dois metros de comprimento, tem sete: duas pélvicas, duas peitorais, duas dorsais e uma caudal. “É preciso apenas um centímetro quadrado. O corte não machuca o animal”, garante Emilly Anny Benevides, que fez o trabalho para a dissertação de mestrado, sob a orientação de Rodrigo Torres. Emilly avaliou as amostras de tecido do peixe, cientificamente chamados Epinephelus itajara, por dois anos.
Os resultados permitiram ainda a equipe verificar o fenômeno da filopatria, que é a fidelidade da reprodutiva de uma população a determinada localidade. “Ou seja, os meros que se desenvolveram em Santa Catarina voltam ao local para se reproduzir”, explica Emilly.
Solitário, o mero costuma se agrupar no período reprodutivo em costões rochosos ou recifes próximos da costa. Curiosamente, as larvas migram para o estuário, onde se desenvolvem abrigadas nas raízes do mangue. “Passam aproximadamente quatro anos no manguezal”, revela Rodrigo Torres. “Daí a importância da conservação desse ecossistema.

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